Buscando assumir sua responsabilidade social, o IDH iniciou em 2007, um relevante projeto para melhorar a vida de crianças em situação de pobreza e vulnerabilidade. Estabeleceu uma parceria com a ASMOVISA – Associação dos Moradores da Vila Santa Anita, associação civil sem fins lucrativos, cujo objetivo é reivindicar melhoramentos e buscar o desenvolvimento sócio-cultural de seus moradores.
A Vila Parque Santa Anita é uma das áreas de vulnerabilidade social em nossa cidade; o nível de escolaridade da população é baixo, sendo que 67% não concluíram o ensino fundamental. A renda familiar de 35% da população é de 1 a 2 salários mínimos; de 52,8% é de até meio salário mínimo; de 23% é de até um quarto de salário mínimo. As principais atividades profissionais exercidas pelos moradores são os serviços domésticos, serviços na área de segurança, de manutenção, e de limpeza (faxineiros), bem como atividades na área de comércio (formal e informal) e de reciclagem de lixo. Verifica-se, porém, uma discrepância no que se refere a profissões e renda, pois há também pessoas na vila com cargos gerenciais, de supervisão, músicos e assessores políticos, cuja renda é bastante acima da realidade média da vila.
As precárias condições de vida são agravadas por um baixo nível de consciência quanto à responsabilidade pessoal e efetividade da participação comunitária, principalmente em buscar melhorias necessárias para sua comunidade. A educação não é reconhecida como prioridade por essas famílias, o que pode estar gerando nas crianças uma falta de disposição para a aprendizagem. Mesmo frequentando a escola, essas crianças não estão disponíveis para aprender, o que resulta em altos índices de repetência que geram e reforçam nos pais a crença de que os filhos são incapazes para os estudos. Essas circunstâncias ocasionam a evasão escolar, pois alguns pais, frente às necessidades, acabam optando por ter seus filhos trabalhando. Ao mesmo tempo, há moradores da vila que estão na universidade, o que demonstra, por outro lado, o potencial humano da comunidade em crescimento.
A maior parte dos moradores avalia a vila como sendo um bom lugar para se viver. Os principais motivos referidos são: a proximidade de parentes; a vizinhança, que é considerada solidária, amável e confiável; a presença de uma boa infraestrutura de serviços básicos, tais como escolas, posto de saúde, comércio, creches, transportes, posto policial, e serviços públicos como iluminação e recolhimento de lixo. Entre os problemas considerados mais graves, apontam a falta de calçamento e de saneamento básico (rede de esgoto), as péssimas condições do arroio, o qual se encontra poluído, as precárias condições de moradia e o desemprego.
Embora considerem a comunidade segura, cerca da metade dos habitantes já presenciou algum tipo de violência, tais como brigas, agressões e até assassinatos. Estes estão muito relacionados ao tráfico e uso de drogas, presentes de forma significativa no cotidiano da vila. Apesar de haver certa naturalização da violência, que faz parte do dia a dia das pessoas, esse é um fator de preocupação para os pais em relação à educação de seus filhos. Também a violência é fator estressor e gerador de perdas para as crianças, uma vez que muitas já perderam algum familiar, por morte ou prisão, e sentem-se constantemente ameaçadas de sofrer mais perdas ou de serem, de alguma forma, atingidas pelas drogas.
São consideradas em situação de risco as crianças expostas à violência, ao uso de drogas e a experiências de privação afetiva, cultural e/ou socioeconômica, o que acaba se traduzindo por dificuldades na frequência e no aproveitamento escolar e em lacunas significativas no seu desenvolvimento emocional.
Optamos por focar nosso trabalho nas crianças a partir de 6 anos e nos adolescentes, utilizando a metodologia psicodramática, para ampliar as ações pedagógicas já existentes, de modo a proporcionar-lhes suporte psicológico que permita ultrapassar as barreiras que impedem sua inclusão social.
Em grupos terapêuticos semanais, são trabalhados conflitos, angústias e inseguranças através de dramatizações e jogos que proporcionam experiências emocionais, cognitivas e socioculturais com potencial de promover a construção e reconstrução de papéis sociais mais saudáveis e adequados e a desenvolver relacionamentos interpessoais positivos, criativos e espontâneos.